Adolescentes começam a beber entre os 12 e 13 anos. Secretaria de Segurança reconhece o problema
A falta de fiscalização nos bares e restaurantes da
capital federal contribui para o consumo de álcool cada vez mais precoce
entre crianças e adolescentes do DF. Os dados são de uma pesquisa
realizada pela psicóloga Fátima Sudbrack, assessora da Senad (Secretaria
Nacional de Políticas sobre Drogas da Presidência da República) e
membro do departamento de psicologia clínica da UnB (Universidade de
Brasília).
Os estudos mostram que a necessidade de afirmação, influência de
amigos e, especialmente a curiosidade, são os principais fatores que
levam os jovens a consumir bebidas alcoólicas cada vez mais cedo.
Atualmente, a idade média de início de consumo do público adolescente é de 12,9 anos.
O subsecretário de operações da SSP-DF (Secretaria de Segurança
Pública do DF), coronel Wolney Rodrigues da Silva, reconhece o problema.
— Isso faz sentido porque é praticamente impossível fiscalizar todos
os estabelecimentos. No entanto, seria mais fácil combater esse tipo de
crime (previsto em lei), se os próprios comerciantes não vendessem esses
produtos aos menores de idade.
A estudante Suzana Amorim, de 15 anos, se encaixa nesse perfil. A jovem
afirma que provou o álcool pela primeira vez aos dez anos, mas começou a
beber com frequência aos 12.
— Bebo por diversão e incentivo dos amigos. Se estou numa festa e
todo mundo está bebendo, eu não vou ficar de fora. Toda saída com a
galera é motivo para tomar pelo menos duas cervejas.
A situação não é diferente para Júnior Queiroz, de 16 anos. Ele diz
que quando bebe perde a timidez e consegue se relacionar melhor com os
amigos e familiares.
— Quando estou nas festas, preciso beber para criar coragem de chegar em alguma garota e ficar falante, por exemplo.
Mas a cerveja não é o alvo principal dos jovens. As pesquisas mostram
que a maior parte dos adolescentes prefere consumir bebidas destiladas
como cachaça, vodca e uísque porque, teoricamente, "ficam animados mais
rapidamente". É o caso de David Duarte, de 16 anos.
— Prefiro bebidas tipo ice e destilados, como vodca e caipirinha.
Sempre vi muita propaganda na televisão e tinha curiosidade em provar
esses produtos. Para mim, qualquer motivo é razão para beber. Se estou
triste, se estou feliz, acompanhado ou sozinho, não faz diferença. Eu
gosto é de sentir a "lombra".
O presidente da Abrasel-DF (Associação Brasileira de Bares e
Restaurantes do DF), Rodrigo Freire, diz que participou de uma reunião
com a SSP-DF para tratar do assunto.
— Tem que ter tolerância zero mesmo, esse tipo de coisa não pode
acontecer. Nós vamos lançar no mês de outubro um selo, ou seja, um
programa em parceria com a secretaria para coibir e conscientizar os
donos desses estabelecimentos a não venderem, em hipótese alguma,
bebidas alcoólicas para crianças e adolescentes. Quem fizer isso e
seguir outras exigências do programa, terá um selo de qualidade da
SSP-DF e conseguirá uma série de benefícios com o Estado.
Freire contou que a medida também vai ajudar a reduzir a violência.
— Normalmente, as pessoas quando estão embriagadas ficam mais
agressivas, o que cria um cenário propício para violência, especialmente
para os jovens.
Bares e restaurantes do DF que fizerem venda responsável de bebidas receberão selo de qualidade
O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), no artigo 243 da Lei
8.069/90, diz que “vender, fornecer ainda que gratuitamente, ministrar
ou entregar de qualquer forma a criança ou adolescente, sem justa causa,
produtos cujos componentes possam causar dependência física ou
psíquica, ainda que por utilização indevida”, pode causar multa e/ou
pena de três meses a um ano de detenção ao comerciante responsável pela
venda.
Para Freire, a intenção da parceria firmada com a SSP-DF é fazer a lei valer na prática a partir de agora.
— A lei existe e não é cumprida. Nós vamos ajudar na fiscalização,
vamos conscientizar os profissionais dos bares e restaurantes, faremos
campanhas e distribuiremos adesivos pela cidade. Faremos o possível para
que esta lei seja, de fato, cumprida.
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